quinta-feira, abril 16, 2009

Thunder Road

São sete horas da manhã
Com os olhos embaçados
Vejo a luz do dia pelas frestas da janela
Uma pressão no peito me maltrata
Quero ficar, mas sufoco o medo e ponho-me de pé

Pela casa circulo na rotina matinal
O banho, o café, o vestir-se
Ligo o rádio na esperança de alguma canção me acalentar
O peito ainda muito apertado
Sente o frio rasgante de hoje

Visto apenas uma fina camisa de mangas
Um casaco ajudaria, um abraço ainda mais
O seu abraço divinamente traria calor
Um calor que nem o café fervendo que bebo agora
Nem as inúmeras cobertas que me cobriram na noite me fez sentir

Meu peito angustiantemente me amarga
Inspiro e expiro profundamente na tentativa de aliviar
Dói, um tipo de dor que te aprisiona, te humilha
Olho lá fora por entre as árvores
E o que vejo é pouco mais que um esboço

Sento-me na surrada poltrona no canto da sala
Curvado com a cabeça quase ao chão
Subitamente uma energia traduzida pelo meu exteroceptor me toma
Os primeiros acordes de "Thunder Road" ressoam dentro de mim
É Bruce Springsteen no rádio, dizendo-me para se levantar e seguir


Abreijos

quarta-feira, abril 15, 2009

Radiohead

Ana sentia-se tão culpada, tão criminosa,
que nada mais lhe restava senão a vontade gritante de fugir e se isolar.
Ele implorava que ela se perdoasse.
Acreditava que Ana não teve culpa, e sentia que sua fé estava se esvaindo
diante do corpo cansado e surrado que via em Ana.
Ali, caído naquela cela, ela agarrava-lhe a mão e permanecia imóvel.
Seus olhos faíscavam um pequeno brilho.
Quando se aproximou mais percebeu algo estranho na boca de Ana.
Onde encontrar um selo? Pensou.
Deveria imediatamente enviar uma carta.
Sentou-se no velho sofá amarelo e pela janela da cela pode ver um jardim onde crianças brincavam.
"A nave caiu no Kazaquistão", uma delas gritava!
Intrigado ele a chamou e perguntou o que estava dizendo.
"Beijou o astronauta na boca", a criança respondeu.
Ele ficou confuso, sem entender,
e lembrou que não havia tomado seu medicamento contra insanidade.
Já não sabia mais o que era real.
De repente virou-se e bateu em um vaso que caiu.
Sangue escorreu, os estilhaços cortara-lhe a mão.
Pensou, "o que fazer"?
Foi quando viu um lenço azul parecido com o lençol que sua mãe forrava sua cama.
Ficou paralisado por um minuto.
Pegou o lenço e enrolou em seu pescoço.
Olhou novamente pela janela e viu o namorado vesgo de sua irmã passar,
e gritando falar: "Acabaram de sepultar o aluno".
Enlouquecido, começou a ver tudo preto no branco.
Caiu. Sua fé se foi e levou sua vida.


Abreijos


Andréa Dória

Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Às vezes parecia que, de tanto acreditar
Em tudo que achávamos tão certo,
Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais:
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços de vidro.

Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente,
Quase parecendo te ferir.

Não queria te ver assim
Quero a tua força como era antes.
O que tens é isso teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada.

Às vezes parecia que era só improvisar
E o mundo então seria um livro aberto,
Até chegar o dia em que tentamos ter demais,
Vendendo fácil o que não tinha preço.

Eu sei - é tudo sem sentido.
Quero ter alguém com quem conversar,
Alguém que depois não use o que eu disse
Contra mim.

Nada mais vai me ferir.
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada que segui
E com a minha própria lei.

Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais,
Como sei que tens também.


ps. a melhor definição alheia de quem sou.


Abreijos

terça-feira, abril 14, 2009

Meu jardim florido e perfumado

Sou uma flor
Moro em um jardim florido e perfumado
Fico no coração, aonde o solo é mais fértil
Tenho cores intensas e folhas aveludadas

Mas algo tem acontecido
Pedras estão sendo colocadas em torno de meu corpo
A cada dia o peso fica maior
Minhas raízes sentem-se sufocadas

É como se mãos fossem essas pedras
Agarradas com força pelo meu pescoço
Impedindo o crescimento
Sou uma flor, apenas uma flor

Sem entender de onde vem estas mãos
E sem armas mortais
Recorro ao vento para levar a longas distâncias
O perfume gentil e poderoso que produzo em nome da beleza

Acreditando no encantamento de alguém
Que guiado por ele virá até a mim
E com gestos de ternura e agradecimento
Fará de suas mãos a sutil manifestação

Agradecida voltarei a respirar livremente
Sou uma flor, apenas uma flor
Me alimento do ar e da terra
Cuide de mim que em troca lhe darei encantamento e cor


Abreijos

segunda-feira, abril 13, 2009

The One I Love (12/02/93)

Estendi minha mão para o lado
Não senti o toque nem a carícia
Agora você não está mais
Juntou-se aos anjos
Está do lado de cima
E meus braços não alcançam
Me viro como posso

Minha pessoa amada
Minha única pessoa amada
Necessito do fervor da junção de suas pernas
Aqui embaixo está tudo muito frio


Abreijos
Revelações de Imperfeições

Na face, as linhas, os contrastes, o brilho, a textura
E a vaga sensação de estar em órbita.
Vagando livremente sem amadurecimento,
Apenas a brincadeira de ser.

E você aparece, pouco.
A rubridez de sua boca e os longos cílios a piscar.
O cabelo revela uma pequena jóia que brilha,
mas secretamente oculta partes de seu rosto.

E o que eu consigo ver por trás destes fios negros
Junta-se a minha lembrança sempre presente
De seu rosto gracioso que eu adoro adorar

Seus medos te visitaram.
Seus sonhos te embalaram.
Liberdade em teu sorriso,
Perpetuando o brilho em seus castanhos olhos
De uma negritude quase surreal.

O desejo, o amor e a redenção.
Transformando-nos em putos, amantes
E humanos comuns fazendo valer a vida.

*Em homenagem a estrela que brilha no meu pedaço de céu!


Abreijos